A Bíblia apoia ou não a ordenação de mulheres ao ministério pastoral?

Angel Manuel Rodríguez, Revista “Adventist World” – outubro 2010

    Não responderei diretamente sua pergunta, mas vou expor as razões pelas quais os adventistas divergem entre si a respeito desse assunto. Permita-me fazer duas observações preliminares. Primeiro, a Igreja Adventista não tomou uma posição oficial a respeito da base bíblica (ou a falta dela) para a ordenação de mulheres ao ministério. Simplesmente votou que a decisão não deveria ser tomada em cada uma das divisões mundiais. A decisão final deve ser tomada pela Igreja mundial, e não por grupos isolados. Em segundo lugar, esse assunto não deve ser considerado uma crença fundamental. A ordenação não era uma “prova de discipulado” na igreja apostólica. Com isso em mente, vamos às razões que levaram ao debate atual.

1. Teólogos liberais: Um forte ímpeto a favor da ordenação da mulher vem de teólogos adventistas mais liberais. O texto bíblico tem certa importância em suas discussões, mas eles argumentam do ponto de vista sociológico e moral. Esses estudiosos são influenciados pelo movimento feminista, cuja ênfase está na igualdade dos sexos e em libertar a mulher do domínio da sociedade machista. Na visão desses teólogos, a igualdade tornou o assunto da ordenação da mulher um dever moral. Uma retórica tão forte vinda de um grupo que questiona algumas doutrinas adventistas provocou reação quase imediata contra a ordenação da mulher.

2. Teólogos da corrente principal: Esses teólogos são plenamente comprometidos com a mensagem bíblica e a missão da Igreja Adventista. Mas, surpreendentemente, divergem sobre a ordenação de mulheres e ainda não são unânimes. Nesse caso, a discussão principal é sobre a interpretação da Bíblia. Os teólogos que não encontram base bíblica para a ordenação da mulher têm falado bastante sobre o assunto. Para ordenar mulheres, eles exigem um claro “assim diz o Senhor”, que ninguém ainda encontrou. Os teólogos que creem que a Bíblia apresenta base suficiente para apoiar a ordenação de mulheres também não estão em silêncio. Eles também exigem dos oponentes um “assim diz o Senhor” – no caso, que proíba a ordenação de mulheres ao ministério. Mas isso, igualmente, não existe. Então, os dois grupos desenvolvem seus argumentos por inferências extraídas de textos bíblicos específicos. O debate gira em torno de argumentos; quem possui os melhores argumentos seria o lado vencedor. Muitas vezes, nesses debates teológicos, inevitavelmente, está envolvida certa dose de orgulho e ninguém abre mão de sua própria posição. Alguns se julgam heróis por defenderem a Bíblia contra outros teólogos que, na opinião deles, não são comprometidos com as Escrituras. E o debate continua.

3. Adventistas de extrema direita: Esse grupo é fortemente influenciado por alguns teólogos conservadores que se opõem à ordenação de mulheres por considerarem que a ideia é influenciada por teólogos liberais. Porém, ignoram que outros teólogos conservadores são favoráveis à prática. Os teólogos contrários à ordenação de mulheres são influentes entre os adventistas adeptos de ministérios independentes, que, muitas vezes, são caracterizados por atitudes negativas para com a liderança da Igreja. Esses movimentos tendem a considerar a ordenação de mulheres um ato potencial de apostasia.

4. Ideias culturais: Em muitos países, o papel da mulher na sociedade é bastante limitado e a ideia de igualdade não é predominante. Nesses contextos culturais, facilmente os membros e líderes da Igreja questionam ou se opõem à ordenação de mulheres ao ministério pastoral. Esses indivíduos, naturalmente, aliam-se aos teólogos que garantem não encontrar base bíblica para tal prática. Como, então, resolver o problema? Devemos trabalhar e orar pela harmonia. O debate entre os teólogos indica que, nesse caso específico, a Bíblia não é tão clara como alguns imaginam. Os dois grupos devem ter isso em mente. Alguns teólogos contribuem para aumentar o problema, sendo dogmáticos em seu ponto de vista e desinteressados em ouvir os outros. Talvez tenha chegado a hora de nos reunirmos como corpo de Cristo e estudar o assunto com espírito de serviço, orando pela unidade e esforçando-nos para ver aonde o Espírito Santo nos conduzirá. Isso exige humildade e boa vontade para trabalharmos juntos para o bem da Igreja.