O Instituto de Pesquisas Bíblicas e a questão da ordenação de mulheres ao ministério pastoral

por Ekkehardt Mueller

1. O Instituto de Pesquisas Bíblicas (em inglês BRI) e a ordenação de mulheres
A questão da ordenação de mulheres ao ministério pastoral tem sido discutida na igreja Adventista do Sétimo Dia por muitas décadas. Com novas questões nesse quiquênio, os membro do BRI tem sido requisitados para participar de várias comissões. Alguns escreveram artigos; outros falaram publicamente sobre o tema. Em cada caso, os membros do BRI compartilharam suas opiniões pessoais sobre a questão da ordenação de mulheres ao ministério. Até o momento o BRI como uma entidade da igreja não tomou uma posição oficial sobre o assunto. Ele nem se opõe nem é favorável a ordenação de mulheres. A decisão final permanece com a igreja mundial.

2. Preocupações
O BRI está bastante preocupado com alguns desdobramentos do atual debate. Parece que depois que a Comissão de Estudos da Teologia da Ordenação (TOSC) terminou seu trabalho, a disputa atingiu um outro nível que, em nossa opinião, é prejudicial à igreja e aos seus membros - ou seja, os que são diretamente afetados e que estão ouvindo ao debate. Temos a impressão de que a discussão não está mais no nível bíblico-teológico e fatual mas no de indivíduos e grupos sendo pesadamente criticados e condenados por outros. Na teologia chamamos isso de argumentos ad hominem. Aqui estão alguns efeitos potenciais de tal abordagem:

(1) Argumentos ad hominem não apenas ferem as pessoas mas também podem criar hostilidade entre o que está atacando e o atacado, destrói a confiança e impede cooperações futuras e trabalho em equipe. Ao final podemos ter uma divisão na igreja - se não visível, invisível. Isso pode dificultar a unidade e a missão da igreja nos anos que virão.

(2) Da mesma maneira, espectadores também serão afetados. Observadores não-adventistas do debate poderão se intimidar pelo que eles vêem nos meios adventistas e pelo que lêem na internet. Portanto o debate pode ter efeitos negativos em torno da igreja e na sua reputação no público geral.

(3) O mesmo pode acontecer em nossos membros e jovens. O debate da ordenação não tem nenhuma relação com os ensinamentos mais fundamentais da bíblia. Ele não faz parte das crenças adventistas centrais. Portanto é ainda mais perturbador aos membros quando vêem pessoas envolvidas no debate evitarem, ofenderem e julgarem os outros porque estão em lados diferentes no debate sobre a ordenação - e eles vêem pouco ou nada do amor divino que Jesus queria que seus discípulos demonstrassem. Isso pode levantar sérias dúvidas sobre a igreja na mente dos membros.

(4) Outro grande problema é o desgaste da autoridade bíblica e da hemenêutica. É espantoso, principalmente para os jovens, ver pessoas que tem uma alta consideração das escrituras escolherem posições tão diferentes. Como resultado, eles podem concluir que a bíblia é irrelevante para algumas ou para todas as questões que enfrentamos hoje, e que a igreja falhou em articular uma metodologia que leve todos às mesmas conclusões. Isso é muito sério porque uma conclusão como essa pode destruir o fundamento da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

3. Resposta
Em resposta a esses desafios, rogamos a aqueles que estão diretamente envolvidos no debate que sejam extremamente cuidadosos ao apresentar seus próprios argumentos assim como os dos outros. Sejam bondosos e gentis. Nossos pioneiros eram hábeis em lidar com diferentes perspectivas teológicas e ainda trabalhar em conjunto com respeito mútuo. Eles sabiam conviver com questões não resolvidas até que se chegasse a um consenso anos depois. Nós também deveríamos saber. 

Também precisamos considerar o custo de nossas ações. Pessoas envolvidas no debate devem olhar adiante e se perguntar: Como aquilo que eu me oponho afeta a igreja e os seus membros, não apenas aqui e agora mas também no futuro? Qual será o ganho se minha posição for aceita mas pessoas perderem sua fé em Deus e nas escrituras e sua confiança na igreja? Quando o debate terminar, será necessário curar. Como eu poderei contribuir para esse processo de cura ainda hoje? A questão da ordenação de mulheres é realmente tão grande que o custo não importa?

Já é tempo de se parar com a retórica que fere os outros. Indivíduos e instituições devem perseguir a paz e se abster de alimentar o fogo. Todos nós precisamos alcançar o outro em respeito e amor, mesmo que permaneçam algumas diferenças.

Aos observadores gostaríamos de dizer: não se preocupem. As escrituras são a palavra de Deus. A bíblia não apenas fala para o passado, mas também fala ao nosso tempo. Como sempre, o problema não é as escrituras mas o intérprete humano. Como todos nós somos pessoas falhas, diferenças na interpretação irão ocorrer. Entretanto, há passagens bíblicas e assuntos que não são tratados diretamente na bíblia que são mais difíceis de compreender e sobre os quais diferenças legítimas de opinião ainda existem na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Por exemplo, esse é o caso de certas passagens em Daniel e Apocalipse. O Espírito Santo ainda tem algum trabalho a fazer entre nós, e devemos permitir que esse trabalho ocorra. Essas passagens bíblicas e assuntos teológicos que ainda não estão completamente claros para nós não afeta nossa compreensão fundamental de Deus e de Sua mensagem para nós. É bom que discutamos questões; não é necessariamente ruim que discordemos em alguns pontos. Ainda assim, as escrituras são a autoridade final em todas as questões de fé e de vida cristã, nos revelando o maravilhoso planos de salvação de Deus e nosso crucificado e ressurreto redentor, senhor, exemplo e mediador Jesus Cristo, ao qual toda língua irá adorar um dia.

Ekkehardt Mueller é diretor adjunto do Instituto de Pesquisa Bíblica

Texto publicado originalmente em https://adventistbiblicalresearch.org/sites/default/files/pdf/BRI_and_the_issue_of_Women%27s_ordination.pdf

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